1 de fev. de 2010

Uma perda/ um ganho: NÓs

Estranha a sensação de perda. Não qualquer perda, mas a que carrega consigo o gosto acre da desilusão. Algo que outrora era verdade, agora, neste minuto, tornou-se equívoco.

Mesmo não confessando, sabemos como tal perda se inicia. Detalhes, pequenos detalhes, coisas que fazemos de conta que não existiam, algo insignificante, atos que os olhos hipnotizados acreditam serem outros predicados, mas chama-se “individualidade”.
Por alguns momentos, e estes instantes podem durar horas, meses ou anos, somos levados a acreditar na linguagem da comunhão, nas juras de compromisso, nas frases feitas da cumplicidade. Tudo quimera! teorias unanimemente aceitas por aqueles que crêem no viver a dois. Contudo, alguém tem que dar o primeiro passo, um passo leve, com jeito de cansaço, como se quisesse apenas ter um tempo só pra si. O outro, entretanto, nota-se tolo, como um ser delicadamente levado a crer coletivamente e sentado a esperar.

E nesta espera percebe que quase perdera a sua personalidade, a sua quota de referencias, a sua lista dos dez mais. Tornara-se metade novamente, e igualmente viu-se despedaçado pela razão. E outra vez conclui que não é apenas o “ter”, o possuir, o que vale, mas o valor que damos a esse querer.

Essa perda, essa estranha perda nos proporciona uma dor tão fria que, se não tomarmos cuidado, acreditaremos realmente que nunca mais pronunciaremos um “NÓS”.


No dia seguinte:


Estranha a sensação de ganho. Não qualquer lucro, mas a que carrega consigo o gosto doce da verdade. Algo que outrora era fato, agora, neste minuto, tornou-se equivoco.

Mesmo não confessando, sabemos como tal dúvida se iniciou. Detalhes, pequenos detalhes deturpados, coisas que fazemos de conta que existem, algo insignificante perto do que os olhos confiantes sabem serem verdadeiros predicados, estes se chamam “reciprocidade”.
Por alguns momentos, e nestes instantes foram apreciados cada segundo-martírio, fomos levados a acreditar na linguagem da confusão, nas vaidades da desobrigação, nas citações-feitas dos que não souberam amar. Tudo fantasia! teorias amplamente divulgadas por aqueles que crêem no viver avulso. Contudo, alguém tem que dar o primeiro passo, um passo ligeiro, com jeito de esperança, como se quisesse ter todo tempo do mundo só para amar. O outro, desconfiado, nota-se desejado, como um ser arrebatadoramente levado a crer no viver a dois.

E nesta decisão percebe que não perderá a sua personalidade, a sua quota de referências, a sua lista dos dez mais, no mas, mais dez. Tornara-se metade novamente, e igualmente se ver unido pela emoção. E conclui que não é apenas o “perceber”, o deduzir, o que vale, mas o valor que damos a esse querer compreender a dois.

Esse ganho, essa estranha dádiva nos proporciona uma felicidade tão sublime que, se aprendermos mesmo a lição, realmente nunca mais precisaremos ser apenas um “eu”.

Nenhum comentário: