3 de jul. de 2010

Insight Cinematográfico VII


O que mais me impressionou em O conformista foi a fotografia. Fiquei a imaginar como aquelas imagens idealizadas como pintura surgem em uma obra de temática tão carregada de violências (ideológicas e físicas, mais a primeira do que a segunda) e dirigido por um artista que vem da Nouvelle Vague. São cenas milimetricamente enquadradas, nos fazendo pensar quando começou o trabalho do fotógrafo Vittorio Storaro e quando findou a imaginação dominante do diretor para que o primeiro fizesse seu trabalho tranquilamente. Sabemos que tudo deve funcionar com uma organizada colmeia, mas quando nos referimos a uma estética cinematográfica, ao se discutir propostas e referencias, não iniciamos tal avaliação sem se referir as imagens. De quem são as imagens? Quem as captou ou quem as incluiu na obra? Mas, e sua totalidade (cenário, figurino, etc.), dependeria o fotógrafo de algo maior do que os seus enquadramentos?

Fora essa estupenda qualidade, o filme trás dois professores de Filosofia debatendo sobre a Itália de Mussolini (prestem atenção na discussão sobre o Mito da Caverna), duas belíssimas (e talentosas) atrizes e um final... Bem, tenho que assistir mais uma vez aquele final. Quem é aquela pessoa? De quem é aquela música? Porque criar novas dúvidas?

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Não entendi quando a Bravo colocou Crimes e Pecados entre os cem e não incluiu ao invés deste, outro filme de Woody Allen, como: Manhattan, A outra ou A rosa púrpura do Cairo. Agora eu entendo.

Duas semanas antes de assistir Crimes e Pecados, havia assistido Tudo pode dar certo, último filme lançado do diretor (ele já estar com outro pra ser lançado em Cannes) e me divertir muito. Para terem uma ideia Tudo pode dar certo (na minha inconveniente opinião) é uma mistura de Anne Hall e Poderosa Afrodite.

Ao assistir Crimes e Pecados, também notei algumas semelhanças deste com os outros. Como em Tudo pode dar certo, temos um filósofo, uma loira burra (naquele, uma ponta da Daryl Hanna), crises conjugais, Deus e Woody Allen (em Tudo por dar certo, interpretado por Larry David e em Crimes por... Woody Allen).

São temas centrais nas obras allenianas, dirão algumas especialistas. Mas como um diretor pode discorrer sempre dos mesmos temas e não cansar o seu público? Não sei se tenho a resposta, mas não imagino o Almodóvar sem suas corres berrantes e suas mulheres excêntricas, o Fellini sem os seus protagonistas com Síndrome de Épico e Pasolini sem seus temas sobre o totalitarismo ou seu humor quase pastelão.

Mas diferente do Pasolini, em Crimes e Pecados, Allen abraça seus principais temas cinematográficos de forma bem harmônica; a comédia que explora as crises existências de um casal e o drama que aborda a desilusão do homem diante de suas escolhas morais. E faz isso com um estilo que, de uma hora pra outra você se ver sorrindo de uma frase dita por uma Allen quase sedutor (“A última vez que estive dentro de uma mulher foi quando visitei a estátua da liberdade.”) e na cena seguinte uma pausa para refletir com o oftalmologista Judah Rosenthal ;

“Sempre fui um cético, mas tive formação religiosa. Por mais que a tenha questionado, mesmo enquanto criança, algum sentimento religioso deve ter permanecido comigo. Lembro-me do meu pai dizendo: “Nada escapa aos olhos de Deus”. Os olhos de Deus, que conceito para um garoto! Como seriam os olhos de Deus? Incrivelmente penetrantes, intensos, eu supunha. E me pergunto se foi mera coincidência ter me especializado em oftalmologia.”

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