31 de mai. de 2009

Os Cartazes - Originalmente Almodovar

“Quando preparo a promoção de meus filmes tento fazer com que a publicidade participe deles, que ela se torne uma criação artística. Do contrário, não teria qualquer vontade de fazer isso.” Já dizia o diretor espanhol Pedro Almodóvar. E assim ele não só conseguia e consegui divulgar seus filmes como promove a criação de algumas, por que não dizer, obras-primas do mundo gráfico voltado para a sétima arte. Daqui a alguns meses será lançado o filme Stripped down, um policial com ótimas referencias (diretor e elenco), mas no quesito originalidade do pôster... Não precisamos dizer nada, o filme ao lado; Tacones Lajanos (ou De salto alto, aqui no Brasil), já fala por si.
Em 2008 o jovem Alexandre Borba, escolheu com tema do seu trabalho de especialização em Design Gráfico a análise dos cartazes dos filmes Entre Tinieblas (Maus Hábitos, 1983), Tacones Lejanos (De Salto Alto, 1991)e Hable con Ella (Fale com Ela, 2002). O primeiro cartaz é de Ivan Zulueta e os dois últimos de Juan Gatti, sendo a foto de Fale com ela, de Peter Lindbergh. Diz Borba sobre o cartaz de De salto alto;
“A forma do sapato remete à mulher, ao universo feminino e a algumas características a ele atribuídas, como delicadeza, sensualidade, erotismo, fragilidade e vaidade. A pistola é um objeto mais associado ao universo masculino e está ligada à violência, brutalidade, crime, morte — ela agrega a dimensão masculina ao feminino. No cartaz, a pistola é o salto do sapato. O salto é a base do sapato. Assim, simbolicamente, vemos um conjunto onde masculino e feminino, em sua oposição, se complementam. Essa relação simbólica de opostos presente na construção desse objeto fornece índices sobre o que o filme mostra no caso, uma personagem que comete um assassinato com uma pistola: uma mulher vaidosa, bonita que, entretanto, é capaz de um ato de violência como o homicídio. Essa mesma contraposição mulher-arma foi utilizada, em 2007, na elaboração de um dos cartazes criados para o filme Planet Terror, parte da dupla produção Grindhouse, dirigida por Robert Rodriguez e Quentin Tarantino. A imagem do grande sapato-pistola remete ao Surrealismo, por sua natureza irreal e absurda.
As cores fortes já se tornaram um signo almodoviano, não só nos cenários , mas nos cartazes, talvez como representação das próprias personagens que predominantemente são fortes e destemidas. Com o conclui Borbas em seu trabalho; "Todos os filmes de Pedro Almodóvar têm características particulares, ainda que haja aspectos comuns a todos eles, conferindo unidade à obra do autor. O mais marcante deles — durante o que se poderia classificar como uma primeira fase da carreira do diretor — é a abordagem que ele faz das ações humanas impulsionadas pelo desejo. A história da madre superiora que dedica todas as atividades do convento à satisfação pessoal de sua redimida preferida é uma entre diversas tramas nas quais o homem é movido a atos desesperados em busca da realização de suas paixões."
O novo filme do diretor "Los abrazos rotos", teve pré-estreia em Cannes, mas aqui só em novembro. O cartaz tem um quê de influência warholiana, que segundo alguns especialistas é uma grande referencia para Almodovar, será?

30 de mai. de 2009

Um artigo - O Principe e Utopia

Artigo realizado para a disciplina de História da Filosofia Moderna I. O DISCURSO POLÍTICO

A palavra discurso não existe por si só. Ela só existirá com a condição de que alguém a fale ou escreva e conseguintemente essa mensagem seja transmita para outro, assim como é preciso que os dois estejam propensos a falar/entender a mesma linguagem, talvez por isso, o discurso é conceituado como “uma exposição que ultrapassa o plano puramente gramatical, lingüístico e cultural” (BRANDÃO, 1998, p.78), ou seja, o discurso é uma exposição que compreenderá formas específicas de ação e expressão e só poderá ser entendida posteriormente quando for contextualizado, isto porque, do próprio ponto de vista discursivo todo discurso só tem significado autêntico no contexto em que é produzido. Assim, um mesmo discurso, observado em momentos diferentes, pode corresponder a interpretações desiguais.
Existem diversos tipos de discursos, mas todos possuem o mesmo propósito: atuar ou agir sobre o outro através da linguagem oral ou escrita. E mesmo que este se mostre como um divulgador de idéias, uma de suas principais ferramentas será “o princípio do dialogismo”, em que o autor dialoga com o leitor e com outros discursos, criando um efeito chamado “rede interdiscursivo”, instituindo uma relação de aliança ou de oposição com os outros textos. Um campo farto para observamos essa rede de interdiscursividade são os discursos políticos.
Como os outros discursos, o objetivo do discurso político também tem uma intenção de ser e conseguintemente de se fazer entender, portanto, ele não se esquematiza para fracassar, mas ser avaliado positivo ou contrariamente. Porém, este possuirá características próprias, como; ser um texto altamente argumentativo e fortemente persuasivo, assim como alicerçado por pontos de vista de um emissor disposto a nos mostrar uma verdade (ou o que lhe parece ser verdade) que ajudará a resolver problemas no âmbito socioeconômico de uma sociedade.
Motivados por essas conceituações sobre discurso e interdiscursividade, tentaremos realizar um breve estudo comparativo das obras O Príncipe, de Nicolau Maquiavel e Utopia de Thomas More, como núcleos de dois discursos políticos que posteriormente se tornaram mais amplos e paradoxais.

REALISMO X IDEALISMO

O florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527) nasceu no ápice de uma próspera Itália renascentista, mas que politicamente era fraca no seu fazer militar. Ainda jovem (29 anos) conseguiu um alto cargo na administração civil (seguindo os passos do pai, que fora advogado) e ao longo de quase quinze anos participou de diversas missões diplomáticas, viajando por países como Alemanha e França, tendo a oportunidade de apreciar as diferentes formas de governos desempenhados nesses lugares. Em 1512 perde o cargo quando os Médici retomam o poder de Florença e no mesmo ano é preso e torturado sob a suspeita de colaborar contra a Família Real. Liberto, isola-se em San Casciano, próximo a Florença, onde escreverá vários livros, entre eles; O Príncipe, sua obra-prima. A intenção do autor era presentear o Papa Leão X (o também florentino Guilherme de Médici) com a obra, já que esta fora escrita com o desejo de Maquiavel retornar à vida pública, como não foi possível, a obra foi dedicada a Lourenço de Médici.
O Príncipe é um livro que possui 26 capítulos e chamou-se inicialmente De Principatíbus (“sobre os principados”), mas teve seu título alterado logo na sua primeira edição. Durante mais de três séculos seu autor foi impiedosamente criticado por oferecer subsídios teóricos para que o governante defendesse seu posto a qualquer custo, porém, sob a obra criou-se um marco que dividiria a história das teorias políticas e que só no final do século 19 começaria a ser analisada discursivamente de outra forma. Hoje, conclui-se que, a grande crítica que se criou em relação à obra foi a de que Maquiavel não se mostrava um idealista e sim, realista no que se refere às condutas políticas, por isso as sentenças negativas.
O inglês Thomas More (1478-1535) ou Morus (já que seu sobrenome foi alatinado) também teve a figura paterna envolto com os códigos civis (seu pai fora um dos juízes do banco dos reis ingleses do século XV) e começou a se interar do mundo político aos 19 anos quando, ao término de seus estudos em Oxford, conheceu o humanista holandês Erasmo de Rotterdam, iniciando um curso de três anos sobre Legislação, ao mesmo tempo em que se preparava para exercer a advocacia. Posteriormente More seria membro do Conselho Privado no reinado Henrique VII e após a queda do cardeal Wolsey, nomeado Grande Chanceler.
Utopia, sua obra mais conhecida, foi editada em Basiléia (Suíça) por Erasmo, com quem More se correspondia frequentemente e confessava suas aversões diante “os negócios dos principados”1 e fora escrita como uma sátira na qual, através de um extenso diálogo, critica a todas as instituições da época, edificando uma sociedade imaginária em que não há propriedades privadas, injustiças contra o povo e normas bélicas, portanto, todas as misérias de um feudalismo em decadência que ainda regia a sua época.
Ao criar uma ilha que também se chamava Utopia2 habitada por utopianos (que constroem uma sociedade comunitária e é descoberta por um navegador errante), More não só cria um novo gênero literário (com muita imaginação, ironia e questionamentos), mas também aproveita para arquitetar uma forte análise à sociedade em que vivia. Ao contrário da obra de Maquiavel, Utopia recebeu e recebe críticas árduas sobre as suas pretensas propostas, só que desta vez, por ser em demasia, idealista.
O realismo de Maquiavel e o idealismo de Thomas Morus se fizeram através de discurso políticos sobre atos administrativos que eram necessários serem discutidos ou reformulados. O primeiro por apresentar um princípio político centrado na experiência e na prática, isto é, uma visão realista de como o governante pode e deve de fato, administrar o seu estado. No campo oposto, Morus designa um termo que por si só tornou-se sinônimo de idealização, hipótese ou imaginação, para propor uma sociedade mais perfeita, mas que em sua obra não surge como um amontoado de devaneios governamentais, recaindo uma crítica, sim, a própria sociedade dita real, quando o autor sentencia: “[...] no caso do ser humano, a razão é a vaidade, a idéia de que se é melhor do que os outros quando se pode ostentar grandes propriedades e todo o tipo de luxo supérfluo. Esse tipo de coisa, porém, não acontece em Utopia”. (MORUS, 1993, p. 82). Temos em Utopia um discurso que hoje chamamos de “metateórico”, ou seja, que se utiliza da literatura, mas que almeja a filosofia. Por isso, as imagens e os diálogos contidos na obra são sagazmente provocativos e o que aparentemente constitui-se uma conversa é uma artificiosa tática de envolver o leitor na sua representação de “república idealizada”.

CISÕES E ENLACES ENTRE POLÍTICA E ÉTICA

Para Maquiavel a política não pode ser dissociada do real, isto é, da história, pois é ela quem confirma eventualmente o desdobrar das próprias ações políticas, e conseguentemente; “[...] os homens prudente escolherão sempre o caminho trilhado pelos grandes vultos, selecionando os mais destacados, de modo que, mesmo sem atingir sua grandeza, se beneficiem de qualquer modo com alguns dos seus reflexos [...]” (MAQUIAVEL, 2004, p. 23).
Ao afirmar que não podendo separar a história do homem (já que a ação política é também histórica por amparar-se nesse passado que estabelece seu ponto de partida) considera o autor que esse indivíduo será sempre o mesmo porque a própria história se repete em suas linhas gerais. Essa atenção para os erros e acertos cometidos pelos povos mais antigos pode ajudar a modificar a história dos governos mais modernos, sendo algo relativamente fácil, principalmente para aqueles que estudam com profundidade os acontecimentos que antecederam os governos atuais. Nele caso, abstraindo como remédio as situações semelhantes, o governante, segundo o discurso maquiaveliano, terá também que possuir algo que se designará virtú, para que o governante se mantenha no poder.
Quando se fala em virtú segundo Maquiavel, estamos discorrendo sobre uma ação que sempre deve corresponder as necessidades governamentais, por isso, ela pode ser um atributo moral (agregando-se mais ao termo “virtude”, usado ultimamente), mas também o seu contrário, mesmo por que, estamos falando de decisões administrativas, que levam em conta várias esferas do espaço público, assim; [...] o príncipe que deseja manter-se, aprenda a agir sem bondade, faculdade que usará ou não, em cada caso, conforme seja necessário” (MAQUIAVEL, 2004, p. 93). O governante dotado de virtú será aquele que saberá se servir de todas as qualidades do irrevogável jogo político, por conseguinte, terá maior virtú aquele governante que souber se desvencilhar das qualidades oferecidas ao homem comum.
Não obstante, o príncipe deve fazer-se temer de modo que, mesmo que não ganhe o amor dos súditos, pelo menos evite seu ódio. O temor e a ausência de ódio podem coexistir – isto é conseguido por aquele que se abstrair de atentar contra o patrimônio dos súditos e cidadãos, que haja uma justificativa e uma razão manifesta [...] Por outro lado, sempre há um pretexto para tomar os bens alheios, e quem começa a viver da rapina encontrará sempre algum motivo para tomar o que não é seu [...] (MAQUIAVEL, 2004, p. 80-81)

A observação a um eventual erro (o de apropriar-se de patrimônios sem uma devida justificativa) possui o claro intento de reposicionar o governante na sua condição de também membro dessa sociedade, tendo este também que contar com a estima do seu povo, algo que pode ser alcançado se este oferecer um discurso solidário.
Já em Utopia não teremos um, mas três discursos; o de Thomas More que, através das indagações apresenta voluntária ou involuntariamente a realidade social da Europa do século XVI, portanto, do início da Idade Moderna; do português Rafael Hitlodeu, que após desligar-se da esquadra de Américo Vespúcio, encontra a Ilha de Utopia e sua admirável conduta política; e o de Pedro Giles que será não só a figura intercessora entre o primeiro e o segundo, mas aquele que vestirá o capuz de cidadão virtuoso, de rara sabedoria, leal e dedicado, portanto, o homem disposto a não ridicularizar a política utopiana, mesmo que inicialmente questione a veracidade dos acontecimentos descritos pelo estrangeiro, principalmente quando aquele pergunta por que este não buscou um principado depois de perder-se, já que, qualquer um não negaria serviços a um homem de tantas culturas e lugares, quando este retruca;

[...] A maioria dos príncipes preocupam-se apenas com a guerra ou a arte da cavalaria. [...] As artes da paz são desprezadas; esforçam-se com mais aplicações em empregar todos os meios, bons ou maus, para aumentar os seus domínios, que em governar com justiça e paz os que já possuem. (MORE, 2002, p.25)

Hirlodeu apresentar um governo que oferece aos seus cidadãos a possibilidade de uma vida virtuosa, bem distante das virtudes oferecidas aos povos medievais e renascentistas, que apenas disfarçavam os interesses de um grupo dominante e que confundiam virtudes com disciplina e renúncias.
Os Utopianos definem assim a virtude: “Viver conforme a natureza, e para isso Deus nos destinou”. O homem que segue o curso da natureza é aquele que se orienta pela razão nos seus apetites e desprezos. [...] A natureza leva todos os homes ajudarem-se mutuamente para viverem felizes (e não procede assim sem boa causa, pois ninguém está tão acima da condição humana que a natureza se ocupe exclusivamente dele, quando, pelo contrário, favorece todos os que possuem a mesma forma e espécie [..]. (MORE, 2002, p.76-77)
Essa virtude de “viver conforme a natureza”, não está ligada apenas ao ofício dos seus membros em plantarem e colherem o seu próprio sustento, tecerem suas vestimentas e admirarem o pôr-do-sol, mas principalmente às ações intimamente ligadas aos prazeres físicos e espirituais, relacionando o prazer com a natureza e a própria racionalidade, pois [...] não só os sentidos, como também a razão, cobiçam tudo o que é naturalmente agradável e que possa ser conseguido sem injustiça ou erro, sem impedir um prazer maior ou que não acarrete consigo esforço doloroso. (MORE, 2002, p.77).
Essa análise de que todas as nossas ações e consequentemente todas as nossas virtudes devem se aliar aos prazeres da vida nos leva a um “princípio de ação moralmente pura”, que, a priori, não é um principio de ação no mundo (isto é, do público para o privado), mas um principio no qual as ações podem ser julgadas ou refletidas pelo próprio indivíduo, mesmo que posteriormente tenha uma observação exterior.

[...] A moral pura é fundada no discurso razoável do indivíduo que quer ser coerente, portanto, que não quer ser indivíduo puramente individual, histórico, psicológico, numa palavra,puramente determinado. Mais ainda, a moral pura não é só fundada no discurso, ela o funda igualmente e, portanto, identifica-se com ele. Contudo, ela acaba por compreender como essencialmente ligada a história. O discurso não existe em si, numa espécie de sétimo céu,mas é discurso de um homem histórico num mundo determinado.(WEIL,1990, p. 57)

Um bom exemplo é o funcionamento do comércio em Utopia onde importa mais aquilo que se produz e satisfaz, não almejando enriquecer-se com o que sobeja. Tal sobra será apenas aproveitada como empréstimo ou no pagamento de tropas mercenárias no caso de uma guerra3, como isso, arranca-se logo na origem as ervas dadinhas da corrupção e da tirania4.

FORTUNA E DIGNIDADE HUMANA
Se para More uma das grandes virtudes de quem administra uma sociedade (como se apresentava Utopia) era criar leis que assegurassem a própria liberdade de reflexão e sabedoria para com os seus cidadãos, em outra tangencia Maquiavel afirma que o príncipe deve estimular os seus súditos a desenvolverem atividades, tanto no comércio, na agricultura ou em qualquer outro ramo, proporcionar entretenimentos (evitando o desprezo e o ódio), assim como amá-lo e temê-lo em devidas proporções, entretanto, por mais prudente que seja esse governante, sempre deverá recear algo que está acima da própria posição social ou mesmo da capacidade de agir corretamente; a fortuna.
Tida como com delimitador da ação humana, esta força que pode mudar o curso dos acontecimentos e que está muito próxima da noção de destino, terá o poder de estar sempre presente, influenciando não só os desfechos governamentais, mas a capacidade do governante de conquistá-la através da coragem, do entusiasmo e da virtú, como o próprio Maquiavel cogita.

[...] às vezes me sinto um tanto inclinado a esta opinião: entretanto, já que o nosso livre-arbítrio não desapareceu, julgo possível ser verdade que a fortuna seja árbitro de metade de nossas ações, mas que também deixe ao nosso governo a outra metade, ou quase. (MAQUIAVEL, 2004, p. 119)

Concluirá assim que, a sorte muda e os governantes que continuam fiéis a seus princípios só obterão êxito na medida em que seus artifícios foram condizentes com as circunstancias, mais se, se oporem a ela, o resultado fatalmente será infeliz, nesse caso será melhor ser implacável do que cauteloso. O próprio discurso sobre a fortuna, nos dá uma idéia da flexibilidade da vida política quando está em jogo o próprio poder, deixando o valores atribuídos a ética em segundo plano, não respeitando direitos e deveres.
More também nos fala da imprevisibilidade, principalmente no que se refere a guerras, entretanto, embora o povo utopiano tema o inesperado, também acreditam que o homem é livre para agir, sendo que a principal ação será a da própria virtude que advêm da busca do prazer espiritual juntamente com a inteligência e a alegria.
Tal é a teoria dos utopianos acerca da virtude e do prazer. Pensam que a razão humana não pode conceber teoria mais perfeita, a menos que uma revelação divina,caída do Céu, seja inspirada ao homem.[...]mas uma coisa acredito firmemente: sejam as suas leis boas ou más,o certo é que em parte alguma encontrei povo mais feliz e uma comunidade mais floresvente (MORE, 2002, p. 82-83)
Os cidadãos de Utopia irão representar o oposto de uma Europa, e em particular de uma Inglaterra, que Thomas More observava perder gradativamente seus valores, instituindo fronteiras sociais entre o povo, a burguesia e a nobreza e criando uma desigualdade que progressivamente caminhava em direção ao capitalismo através das propriedades privadas e das distorções sociais.
A crítica contestará a inversão da ordem do ser para a ordem do ter, que por sua vez está relacionada com os prazeres frívores (que causarão dores e doenças) e não com os prazeres físicos (o trabalho e o lazer). Temos assim, um discurso para uma revitalização da dignidade humana, em que valem mais os cidadãos que os bens materiais. Não é por coincidência que a ilha de Utopia tem um governo democrático e similar ao republicano idealizado também por Platão.

Assim, toda a ilha é uma grande família. Depois de terem posto em reserva para si próprio uma provisão suficiente, que equivale às necessidades de dois anos, na incerteza do ano seguinte, os excessos são expostos para outros países. [...] (MORE, 2002, p. 70)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entre as duas obras analisadas temos dois discursos quase antagônicos no método de alcançar um bom governo. A concepção da ilha de Utopia está toda teorizada em duas idéias: na busca do prazer pura e saudável e na não existência da propriedade privada, mas só sendo possível se houver um governante integro e democrático. Para Maquiavel essa mudança teria de ser feita com valorosa atenção a história e a fortuna, tendo o governante as qualidades necessárias (a virtú) para se prevenir com antecedência de eventuais conflitos, nem que para isso tenha que empregar a força. Enfim, podemos concluir que o discurso de Maquiavel e de Thomas More são avessos. Para More, a sociedade pode viver conforme a natureza e ao mesmo tempo orientado pela razão, enquanto que para Maquiavel esta deve apenas obedecer.

1 Nesse período More estava ligado à embaixada diplomática enviada pelo Rei da Inglaterra a Flandres a fim de resolver um desacordo surgido entre este pais e o príncipe Carlos de Castela.
2 Segundo Jean de Lery em Viagem à terra do Brasil ( São Paulo: 1980) Thomas More engajou o termo “utopia” após ficar maravilhado com o relato de Américo Vespúcio sobre a ilha de Fernando de Noronha, quando, nas expansões marítimas, a descoberta da América trazia consigo a idéia de um paraíso, o local “perfeito
3 Segundo Hitlodeu o governo de Utopia preferiria expor à morte os estrangeiros do que seus próprios cidadãos, contratando aqueles que vivem exclusivamente para as guerra e que [...] sustentam a vida procurando a morte. (MORE, 2002, P. 96)
4 Mesmo que o principado seja vitalício, pode haver o deposição se comprovar que o regente cometeu alguma tirania.


REFERENCIAS
BLANDY, Lauro S.; FONSECA, Eduardo Nunes. Pequeno dicionário filosófico. Editora Hemus: São Paulo, 1977.
BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à Análise do Discurso. 7 ed. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1998.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Martins Fontes: São Paulo,2004.
MORE. Thomas. A Utopia. Ed.Martin Claret; São Paulo, 2002.
WEIL, Eric. Filosofia Política. Tradução e apresentação de Marcelo Perine. Edições Loyola,São Paulo,1990.

16 de mai. de 2009

1° Colóquio Nietzsche - Do Crepúsculo à Aurora

O Grupo de estudo Hermenêutica e Literatura surgiu em Setembro de 2008, tendo como idealizador o Professor Almir, que, por motivos diversos (entre eles já possuir um outro grupo de estudo) passou a função de orientador para o professor Wandeilson. Antes mesmo de completar um ano de existência, mas com muitos encontros, projetos e artigos realizados por seus membros (que inclui discentes dos cursos de Filosofia, Letras e Psicologia) estamos conseguindo realizar a nossa primeira semana acadêmica, sendo que, uma grande parte dessa realização se deve a obstinação e, por que não dizer, delirium do nosso orientador e amigo Wandeilson.

Os cartazes - Parte V - Horror


Os primeiros cartazes dos filmes de terror tiveram uma grande influência do expressionismo alemão, cartazes que exageravam na exposição dos seus vilões, com inventiva exploração do contraste luz/escuro, assim como uso de sombras e o clima soturno, principalmente se o filme era sobre vampiros. Na década de 50 as vítimas também começaram a dar as suas caras nos cartazes, sempre, claro, gritando ou sendo mortas. Nas décadas de 80/90 voltaram a utilizar os desenhos, ou desenhos sobpostos as fotos. É o que podemos perceber em Sexta-feira 13, mas foi também a partir dessas décadas que começou-se a usar a computação gráfica em belos cartazes como o de A Mosca e Drácula, porém, o clima retro sempre prevaleceu, em Uma noite Alucinante, A hora do espanto e os recentes GridHouse e O retorno dos Malditos (um dos melhores da última safra) isso é bem claro. Lembrando que, quando assunto é poster de filme de terror/horror , os orientais estão fazendo belíssimos trabalhso que mostrarei posteriormente. Para terminar o cartaz do primeiro A Hora do pesadelo. Por quê? Foi um dos cartazes de filme de terror que decoraram meu aniversário de 14 anos.

A outra relação são de filmes que eu não conheço (exceto Piranhas e Maniac), que eram considerados Filmes B (de Bomd+) e talvez só passaram no último Corujão. Pérolas perdidas por aí. Vejam e se deliciem.


Os Cartazes - Parte IV Os nacionais

Não posso deixar de confessar que estas são escolhas sentimentais, tanto ao que se refere a própria proposta da obra, como as denúncias de Pra frente Brasil e Quem matou Pixote?, como a própria criatividade, como em A dama do cine Shangai e Capitalismo selvagem. As obras-primas do nosso cinema; Deus e o Diabo, A hora da Estrela e Central do Brasil são por se só a própria essência dos filmes. E como não incluir Vidas secas e Bras Cubas, se os dois não deixam nada a desejas em relação as obras nas quais se inspiram ? Observando mais atentamente os atores que participiram dessas obras filmicas percebemos que uma atriz se destaca, e a versátil Fernanda Torres, "bicho do nosso cinema", ela está em O que é isso, companheiro?, Com silença, eu vou a luta, Capitalismo selvagem, Inocência e Eu sei que vou te amar, cartaz pela qual eu sou apaixonado desde sempre. A criatividade e o talento dos novos designers podem ser conferidos em Nome Próprio, Baile perfumado, A ostra e o vento e O céu de Suely. Por fim o cartaz de Bonitinha, mas ordinária, O filme é duvidoso (mas tenho que adimitir que gosto), mas o cartaz é surpreendentemente de bom gosto.