22 de jun. de 2010

Insight Cinematográfico V

Domingo, 23;00 h. Com uma certa insônia, resolvo asssitir a um filmes dos ESSêNCIAIS. Escolho, Morte em Veneza, do Viscoti, já presentindo que, ao passo de meia hora de "projeção" pegarei no noso e asssitirei o restante no dia seguinte. Todo engano, deparo-se com este diálogo abaixo (que mais parece uma discussão entre Nietzsche e Schopenhauer) e com uma obra que há dois dias não sai da minha cabeça. Magistralmente interpretado (Dirk Bogard), dirigido e musicado (a trilha sonora , segundo o google, é do compositor austríaco Gustav Mahle) o filme é baseado em uma novela de Thomas Mann. Pretendo assistí-lo novamente.

- Belo. Queres dizer, a tua concepção espiritual de belo.
- Mas negas que o artista possa criar a partir da imaginação?
- Sim. Gustav, isso é exatamente o que eu nego.
- Então, no teu entender, o nosso trabalho enquanto artistas é ...
- Trabalho, exatamente! Acreditas mesmo que o belo provém do trabalho?
- Sim, acredito.
- Eis como o belo nasce. Assim. Espontaneamente. Totalmente indiferente ao nosso trabalho, Preexiste a nossa presunção de artistas. O teu grande erro, meu caro amigo, é considerar a vida, a realidade como uma limitação.
- Mas não é assim mesmo? A realidade apenas nos confunde e avilta. Sabe, por vezes, penso que os artistas são como caçadores que atiram no escuro. Desconhecem o alvo e não sabem se o atingiram. Mas não podemos esperar que a vida nos mostre o que a arte é. A criação de beleza e pureza é um ato espiritual.
- Não, Gustav. Não! A beleza pertence ao mundo dos sentidos. Apenas aos sentidos.
- Não podemos alcançar o espírito. Não podemos alcançar o espírito através dos sentidos. É impossível. É apenas através do completo domínio dos sentidos que podemos alguma vez alcançar sabedoria, verdade e dignidade humana.
- Sabedoria? Dignidade humana? De que nos servem? O gênio é uma dádiva divina. Não, é uma perturbação divina. Uma chama súbita pecaminosa e mórbida de dons naturais.
- Rejeito as virtudes demoníacas da arte.
- E estás errado! O mal é imprescindível. É o alimento do gênio
- Sabes, a arte é a mais elevada fonte de educação e o artista tem de ser exemplar. Deve ser um modelo de equilíbrio e força. Não pode ser ambíguo.
- Mas a arte é ambígua. E a música é a mais ambígua de todas as artes. É a ambigüidade tornada ciência. Espera! Ouve este acorde.. ou este. Podemos interpretá-lo como quisermos. Temos perante nós toda uma seqüência de combinaçõs matemáticas imprevistas e inesgotáveis! Um paraíso de ambiguidade em que tu mais do que ninguém. Fazes um regabofe, Não ouves? Não reconheces?
- Pára!
- É tua! A música é toda tua!

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