30 de jun. de 2009

Ato Falho


A cultura da burrice artificial

Sabe quando vc pode expressar tudo aquilo que realmente sabe? Numa conversa com pessoas que estudam (ou estudaram) ou se interessam pelo mesmo assunto e sabe tanto quanto vc, fora isso:

Quando o seu chefe não sabe solucionar os problemas, e vc tem um "insight”, mas que não esteja em jogo é o seu trabalho, quando, com a nova proposta vc o chame de idiota.

Quando os seus amigos da escola estão precisando desesperadamente de seus saberes gramaticais, matemáticos ou freudianos nas provas, mas não quando só vc fez o trabalho de casa.

Quando o professor não sabe a resposta e pergunta despretensiosamente , mas não quando escreve a palavra ou a formula errada no quadro e vc o ajuda.

Quando vc sabe que muitos filósofos plagiaram os seus colegas e alguns apenas mudaram as denominações de “ser”, “substância” e “Deus”, mas precisamos respeitá-los pois pareceríamos uns anormais sem indagações ontológicas, epistológicas ou teológicas.

Quando observamos que a vida é algo caótico por ser competitivo e utilitária, mas não podemos falar de algo qeu não seja “amar ao próximo”.

Flaviano Menezes

24 de jun. de 2009

Um ensaio - M de (Literatura ) Maranhense - parte I


Flaviano Menezes

Por quase dez anos (1652 a 1661), o Padre Antonio Vieira viveu (a contragosto) no Maranhão, então província do império luso. Tudo por causa de suas divergências com pessoas influentes da corte portuguesa que o designaram (pela Companhia de Jesus) a vir a adotar a "missão do Maranhão", algo que logo ele verificou ser dificílima. Em um dos seus celebres sermões, mas especificamente aquele que ficou conhecidopor Sermão da Quinta Dominga da Quaresma”, o sacerdote decretou;[...] que letra tocaria ao nosso Maranhão? Não há dúvidas de que tocaria a letra M. M de Maranhão, M de murmurar, M de maldizer, M de malsinar, M de mexericar e, principalmente, M de mentir. Mentir com as palavras, mentir com as obras e mentir com o pensamento, porque de todos e por todos os modos aqui no Maranhão se mente. Novelas e novelos são moedas recorrentes desta terra, com uma diferença, as novelas armam-se sobre o nada e os novelos armam-se sobre muitos, para tudo ser moeda falsa”.

Gostaria muito de assegurar que, se o Padre Vieira vivesse nos nossos dias ele certamente teria outra opinião sobre o nosso povo. Mas eu, como os meus antepassados, estaria também mentido. O “M” perpetua-se, a letra do nosso Estado continua a ser fonte de adjetivos injuriosos, blasfêmicos e apropriados para com o nosso povo. É evidente que o sacerdote estava se dirigindo a uma província mal-estruturada da segunda metade do século XVII, mas isso não impede que nós, maranhenses do século XXI, observemos o que mudou (ou não) na maneira toda especial de ver e sentir da nossa gente. E isso se aplica também ao “quase” inatacável mundo da nossa Literatura.

Continuamos a Murmurar (quando não gostamos de uma obra literária maranhense e apenas temos coragem de fazer tal crítica quando estamos na companhia de conhecidos, ou quando professores estamos diante de uma sala preste a ser arrebatada, mas quando nos aproximamos de uma platéia maior mudamos de opinião), a Maldizer (quando criticamos que a nossa Literatura não é a mesma, porém, quando alguém quer apresentar novas idéias ou novos talentos, viramos o rosto ou dizemos que isso não é literatura e bom mesmo era Gonçalves Dias!?), a Malsinar (quando desejamos que o GEIA não dê mais certo porque somos de tal partido, ou que a Feira do Livro não seja organizada porque somos amigos de tal autoridade, ou quando não escolhemos nenhum dos poemas para levar o prêmio porque não temos nenhum “camarada” na disputa), a Mexericar (quando perdemos a oportunidade de escrever uma excelente biografia de um literato maranhense e apenas listamos algumas curiosidades da vida do mesmo e dizemos que isso servirá para “futuras análises” de suas obras), a Minimizar (quando defendemos a Literatura Maranhense, mas não compramos livros de autores da terra para nossos filhos, sobrinhos e alunos lerem e não sabemos informar para algum turista quem é aquele tal Nauro Machado que dá nome aquela praça no Bairro da Praia Grande) e finalmente, continuamos a Mentir.

Entretanto, não quero apenas me proferir sobre o lado negativo desse atributo dado pelo Padre Vieira aos moradores da Ilha de São Luís, mas algo que vai além da sua relação com a intenção de prejuízo ou dolo, ou melhor, a sua estreita afinidade com a literatura, ou “as novelas” como o próprio padre pronunciava.

Todos nós sabemos que a mentira nem sempre é o contrário da verdade, mas que, na maioria das vezes é apenas uma invenção deliberada, uma ficção. Deduzimos também que nem toda ficção ou fábula é sinônimo dessa mentira, isto é, possui uma intenção de enganar (esta, mais relacionada com a ética e a moral) mas sim, deturpação da realidade. É evidente que, antes mesmo de relacionar a literatura com a mentira alguns irão dizer que isso não tem o menor sentido, pois não podemos falar da criação literária como produto da falsidade, quando a própria literatura nos proporciona a radical consciência da nossa realidade. Mas se a literatura fosse apenas uma reprodução da realidade, qual seria a sua utilidade e sua fascinação? Seria apenas um “inutensílio” como já dizia o poeta Manoel de Barros.

A literatura é uma grande mentira. O autor olha para o mundo, sente suas variantes e começa a mentir, ou melhor, a escrever, tão simples quanto convencer o leitor que tudo o que está naquelas páginas é verdade, já que o próprio leitor ao abrir um livro de ficção possui uma pré-disposição a ser (in)conscientemente enganado. Assim, a mentira na literatura se disfarça pomposamente de discurso fictício, mas referida acepção é apenas uma demoninação teórica para fingimento, invenção, farsa, etc.

O Maranhão possuiu e possui grandes mentirosos na sua Literatura, alguns tão inspirados que conseguiram escrever sobre uma terra natal que nem se lembravam, outros viajaram pelo mundo antes mesmo de navegar pela Baia de São Marcos. Alguns foram mais lacônicos, mas não menos inverossímeis, quando criaram seres do mar, entidades dos becos escuros e heróis quase imortais. Nesse caso, não precisamos fazer uma distinção entre narradores e ficcionistas, ambos no Maranhão são bem representados no quesito fingere, mesmo que, para alguns a ficção seja algo muito mais sofisticado do que a mentira. Mas convenhamos, em ambas a intenção de enganar prevalece, às vezes expandindo tal intenção até mesmo do autor para a própria criatura.

Quem foi o Guesa de Sousândrade? O próprio Sousândrade, que jurava de pés juntos que havia viajado por toda a América do Sul para criar seu personagem mais famoso. O homem que combatia a monarquia, a escravidão, os impostos portuguesas e a hipocrisia da elite ludocense se transformou no índio guerreiro arrancado do seu lar e que numa peregrinação herculana tenta revitalizar a cultura indígena, combater o capitalismo e promover a redenção de toda a raça humana. iCamilo Castelo Branco afirmou em certa ocasião que achava que o poeta era o “mais extremado, o mais fantasista e erudito poeta do Brasil, no seu tempo”, mas achava que seu poema pesava e enfarava pela demasia dos adubos. Em outras palavras, era um “senhor” mentiroso, mas não precisava inventar tanto.

CONTINUA...

Ato Falho

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Corrida (sem capacete!)de moto-táxi para a Terceira -R$ 5,00
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22 de jun. de 2009

32º Festival Guarnicê de Cinema


Vamos logo ao X da questão. Recentemente São Luis recebeu mais um título; o que Capital Brasileira da Cultura. Para que isso serve? Para chamar mais turista (enriquecendo os cartéis hoteleiros e as “Pretas” da vida) e o governo estadual pedir mais dinheiro para o federal com o “intuito’ de investir mais na cultura. Quem mora na cidade há pelo menos cinco anos já notou como surgiu eventos culturas pela cidade, temos a Semana do Teatro, Semana da Dança, Semana do Teatro estudantil, Poemará, Feira do livro, exposições, serenatas, shows na Maria Aragão e o nosso Guarnicê de Cinema. A impressão que tivemos esse ano é que, por causa de tantos eventos, os patrocínios estão se racionando. Assim, tivemos apenas quatro dias de festival (pois o primeiro não conta) e um escasso programa para nós que almejamos por obras que só o festival pode nos proporcionar. Não sei de quem foi a culpa, e por isso não vou culpar ninguém, sei que a organização estava lá, indicando os filmes, correndo para levá-los para outra sessão, tentando disfarçar um buraco negro no meio do Centro de Criatividade Odylo Costa Filho. Ficou para mim, a constrangedora sessão Mostra Competitiva de Vídeos Bloco 03, em que foi apresentado um micro-documentário sobre a festa promovida para celebrar o Patrimônio Imaterial do Brasil que o nosso tambor de Crioula do Maranhão recebeu pela mãos do reggueiro Gilberto Gil. Não sei o que foi aquilo, a diretora (se assim posso chamá-la) filmou mais as celebridades que aqui estavam do que as dançarinas fazendo as suas pungadas ou os integrantes batendo os seus tambores. Pensei; - Já fizeram isso aqui no Maranhão... Não precisávamos ver a nossa cultura com os olhos de uma turista desinformada, e que por sinal não quis se informar, pois não entrevistou ninguém da dança. Outro vídeo que me decepcionou foi O Buraco Negro. Graças a Deus um dos realizadores adiantou logo que era um filme Ex-pe-ri-me-tal, mas tinha o nome do Frederico Machado, aquele que realizou o competente Infernos, sobre a poética do Nauro Machado (seu pai). Ao termino do filme pensei: - Caralho! Nunca fizeram isso aqui no Maranhão, e nem precisava. Ao final do bloco tive que votar do mini-documentário (dirigido por um cara que não nem daqui, olha a irrônia!)sobre o compositor e canto maranhense Antonio Vieira falecido recentemente. Não tive como não lembrar que, ano passado estava eu com o meu amigo Rodrigo em frente a Integração, depois de uma sessão agitada no Guarnicê, quando o Vieira apareceu e o meu amigo o cumprimentou; - Mestre Veira! Como vai senhor? - Apenas um ano, tantas mudanças.

21 de jun. de 2009

Cartazes - Apostas




Um filme - Dúvida


O filme Dúvida é bom porque tem ótimos atores no seu elenco, ou suficientemente empolgante pelo seu brilhante roteiro (que é baseado numa peça ganhadora do Pulitzer) ? Esta é nossa primeira ... dúvida quando nos envolvemos na estória do carismático padre Flynn (P.S. Hoffman) sendo acusado pela madre superiora (M. Streep) de assediar um aluno, mas não é a única. A suspeita da jovem irmã James (Amy Adams) é pouco a pouco absorvida pelo espectador, não porque vimos algo além de um gesto carinhoso (ou caridoso?) por parte do padre para com o único aluno negro daquela escola, mas por algo que não podemos deixar de notar; o talento do ator Philip Seymour Hoffman, como uma interpretação dígna de... ser assistida de joelhos no chão (com perdão do trocadilho situacional). Talvez seja um dos poucos atores que consegue ao mesmo tempo defender seu personagem mas também a proposta da obra, isso é espantosamente percebido quando seu personagem mostra uma arrogância ao ser questionado (note seu olhar ao tentar sair pela primeira vez da sala da madre e é interrogado por esta), ou quando tenta agradar a jovem freira para que fique do seu lado. É uma interpretação brilhante, construída por pequenos gestos e palavras ditas de uma forma que nos faz refletir sobre uma difamatória acusação ou sobre uma verdade que não queremos acreditar. Do outro lado está a Meryl Streep, que também incorpora as ideologias morais com a mesma dignidade que carregou as suas outras personagens, entretanto, é prejudicada por um excesso de intenções benevolentes do diretor de mostrá-la com uma mulher com seus defeitos e virtudes, principalmente quando esta se presta a ajudar uma freira mais velha em algumas situações, mas nada que prejudique a sua atuação e ao filme. E sobre a pergunta acima, bem, o filme é bom porque é muito bem escrito (ou adaptado) e maravilhosamente interpretado.

Flaviano Menezes